segunda-feira, fevereiro 28, 2011

O fim está próximo

Realmente, é um título em tom bastante apocalíptico. Parece algo saído das profecias de Nostradamus, ou de algum esquecido pergaminho Maia. Mas não se enganem: nem por isso, o fato deixa de ser verdadeiro. A partir do momento em que o ser humano perde a consciência de que faz parte de um grupo maior, e com ele possui uma relação de simbiose, sem a qual não sobreviveria, a extinção do mesmo, realmente, está próxima. Este grupo maior chama-se Humanidade. Mas ao mesmo tempo, humanidade é o que, cada vez mais, falta à raça humana. Estranho e triste paradoxo.

Por volta das 19hs desta última sexta-feira, dia 25/02/2011, um suposto membro da raça humana decidiu acelerar o ritmo de extinção de sua própria espécie, atingindo, a esmo, pelo menos 15 de seus semelhantes. A tragédia, ou como prefiro descrever, o crime, aconteceu em Porto Alegre, durante uma passeata do grupo Massa Crítica. O grupo defende o uso da bicicleta e combate o uso do automóvel nas ruas da capital gaúcha.

O vídeo pode ser visto aqui. Sugiro que, quem tem coração fraco, não assista.

Contudo, o que mais me desola, e o motivo do título apocalíptico, não é o ato violento e desumano em si deste indivíduo que, certamente, não mais detém o direito de dividir este planeta, de já escassos recursos, juntamente com seus semelhantes humanos. Mas, principalmente, as reações de outros seres da mesma espécie, em uma tentativa inconcebível de justificar e/ou amenizar a atitude do motorista maníaco. Como, por exemplo, a postura do delegado, que disse ter havido “excessos das duas partes envolvidas”. (A notícia pode ser lida aqui.)

Desculpe-me, senhor delegado, mas não existe nenhuma justificativa neste mundo que me convença de que “houve uma ação e uma reação”, como o senhor afirmou. As leis não foram cumpridas de acordo? Provavelmente. O grupo deveria ter sido mais organizado e comunicado as partes necessárias para a viabilização do evento, para obter a permissão e a segurança necessárias para a execução do mesmo. E, se isso não ocorreu, deveriam ser penalizados por isso. De acordo com a Lei. Mas nunca, de acordo com a barbárie ensandecida de um criminoso.

Então, por favor, sejamos mais coerentes e humanos, e mais verdadeiros uns com os outros, pois nós, a humanidade, só temos a nós mesmos. E, acredite, o fim está bem mais próximo do que pensamos.

“A humanidade não se divide em heróis e tiranos. As suas paixões, boas e más, foram-lhe dadas pela sociedade, não pela natureza.”
-- Charles Chaplin

quarta-feira, dezembro 29, 2010

Feliz Ano Novo

Eu não costumo escrever aqueles cartões e textos melosos de Ano Novo, justamente porque sei que a grande maioria das pessoas que os escrevem, o fazem com aquele "senso de obrigação". A maioria dos textos que leio é uma interminável lista de agradecimentos falsos, arrependimentos falsos e resoluções falsas. De alguma forma, todos se sentem na obrigação de reconhecer que, como diz o velho chavão, "este ano foi melhor que o anterior e pior que o próximo". E de traçar um monte de metas e criar perspectivas que, nem de longe, jamais serão, sequer, tentadas.

Entretanto, este ano, depois de ler alguns textos realmente interessantes, de pessoas que realmente fazem (e fizeram) alguma diferença, me senti inspirado a escrever algumas poucas palavras de fim de ano.

Este ano tive grandes conquistas, algumas perdas, várias dificuldades, muitas oportunidades, mas, acima de tudo, inesgotáveis lições aprendidas. O fim de ano é um momento de reflexão. Não por nenhuma superstição, costume, tradição, ou mesmo, hábito. É porque define um marco, o fechamento de um ciclo em nossas vidas. Através dele, podemos olhar para trás, para o período de um ano inteiro, e avaliar tudo o que passamos. O que ganhamos, o que perdemos. Como agimos nas diversas situações com as quais nos deparamos. As oportunidades que criamos, as que deixamos passar e as que agarramos como se não houvesse amanhã. As que deram certo e as que deram errado, e o porquê.

Podemos relembrar as pessoas que fizeram parte dessa trajetória. Os novos relacionamentos que surgiram, e aqueles que foram deixados para trás. E, ainda, aqueles que apenas almejamos, mas que continuam na expectativa. O quanto trabalhamos e o quanto deixamos de fazê-lo. E o que realmente valeu a pena.

Podemos traçar metas sim, mas devemos fazê-lo com responsabilidade com nós mesmos. Metas tangíveis nos estimulam e nos fazem bem. Mas também podemos (e devemos) sonhar. Evoluir, constantemente. Mas acima de tudo, colecionar muitas, mas muitas mesmo, lições aprendidas. A cada oportunidade perdida, tentativa mal sucedida, erro cometido, injustiça sofrida, relacionamento terminado, devemos lembrar-nos de uma coisa importante: nós nunca perdemos nada. Pelo contrário, ganhamos, cada vez mais, experiência, vivência, sabedoria. Aproveite o momento de reflexão e lembre-se de meditar e reavaliar tudo o que foi aprendido neste ano que passou. E não esqueça de colocar em prática, tudo aquilo que, com muito esforço, foi aprendido.

A todos aqueles que tiveram participação e contribuiram de alguma forma para este meu ano de aprendizado (tendo ou não ciência disso), um "muito obrigado". E desejo a todos que, em 2011, possamos colecionar mais um outro tanto de importantes lições aprendidas.

Aprender? Certamente mas, primeiro, viver e aprender pela vida, na vida
-- John Dewey

domingo, dezembro 05, 2010

A Morte (não tão) Lenta do Português

Antes que alguém se confunda com o título deste post, não, não se trata de uma piada lusitana de mau gosto. Estou falando da nossa Língua Portuguesa.

Pois que, uma bela noite, estava lendo um artigo de meu interesse, na versão on-line de uma revista que assino (pouparei o nome da revista, já que meu foco aqui não é atacá-la; já fiz isso em um comentário direto aos editores da mesma) e já enfadado de, pela enésima vez, encontrar um turbilhão de intermináveis aberrações "estrangeiristas", resolvi escrever o seguinte comentário aos editores da revista:

Caros editores,

Ao contrário de muitos usuários que costumam comentar nas notícias aqui da *** on-line, eu raramente utilizo este espaço de comentários para criticar a forma e a escrita dos textos. Prefiro comentar a notícia em si, seu conteúdo. Mas dessa vez, vou fazer uma exceção; como assinante da revista há quase dez anos, reservo-me o direito.

Estou cansado dos estrangeirismos utilizados deliberada e abundantemente pela ***, tanto no formato on-line quanto no papel. E existe uma palavra, especificamente, que me dói a vista, sempre que a encontro (cada vez mais frequentemente): "massivo", utilizado como tradução para a palavra inglesa "massive", NÃO É uma palavra da Língua Portuguesa. Ela não existe no nosso dicionário e é um erro utilizá-la. A tradução de "massive" é o adjetivo "maciço" que, este sim, existe na Língua Portuguesa e reflete perfeitamente o significado adequado.

Numa época em que, cada vez mais, nossa língua é, impiedosa e constantemente, deturpada, acredito que a ***, como meio de comunicação jornalístico e formadora de opinião, tem o dever de prezar pela manutenção do artefato mais básico da comunicação: nossa Língua Pátria.

Aviso ao Duende de plantão: sim, eu propositalmente inseri alguns estrangeirismos neste post. O faço com plena consciência de que, em um mundo cada vez mais globalizado, a evolução de uma língua é, não só inevitável, mas essencial. Utilizo palavras que foram introduzidas em nossa língua, oriundas de outras (predominantemente, o Inglês), na falta de outra que expresse melhor significado no contexto em questão, com a exata grafia da língua original e que, há muito, já foram incorporadas oficialmente ao nosso dicionário. Entre elas, "post" e "on-line". Considero isto aceitável embora, em alguns casos, ainda relute em utilizar determinados estrangeirismos. Mas considerando a evolução da língua, em um mundo globalizado, moderno e tecnológico, é quase mais aberrante a não utilização de determinados substitutos, do que a própria. Vide o caso da palavra 'sítio' ao invés de 'site', que alguns hipócritas insistem em utilizar, alegando um falso patriotismo pela língua Portuguesa. Por que hipócritas? Uma vez me deparei com um texto que dizia "clique no linque do sítio", cujo autor "justificou" o grotesco literário alegando preferir utilizar vocábulos de nossa própria língua. Informação: "linque" jamais existiu (graças a Deus, e espero que assim continue) na língua Portuguesa.

Mas voltando ao assunto em questão. Apesar de tolerar e, em determinadas ocasiões, sucumbir (e considerar aceitável) à utilização de vocábulos estrangeiros que já foram incorporados à nossa língua, jamais concordarei com a transformação deturpada de palavras estrangeiras para utilização literária. Gírias e regionalismos são aceitos na linguagem coloquial e falada, mas jamais façam uso dos mesmos na redação de textos. Muito menos quando forem publicá-los em meios de comunicação profissionais. Além de ser errado, antiético e antiprofissional, está colaborando com a proliferação da ignorância em nosso país (que já não é baixa).

Já me deparei com aberrações como "massivo", "printar", "tuitar" e, pasmem, "googlear". A minha pergunta é: não temos vocábulos suficientes em nossa língua? Ela já não é rica o suficiente, sendo considerada uma das mais ricas do mundo? A ignorância se tornou "cult" e agora é "cool" escrever errado? Na minha opinião, utilizar esse tipo de aberração e, ainda por cima, defender sua utilização, alegando uma suposta evolução na língua, é como querer incorporar à língua escrita o "jargão" utilizado por traficantes e favelados, como "mano", "bródi", "preiba" e "dorgas".

Mas o pior de tudo é saber que algumas dessas "preciosidades" já estão sendo incluídas em nosso vocabulário, através de nossos dicionários mais famosos e oficializando, assim, a correção dos termos. Sob o argumento de que "a língua correta é aquela que o povo utiliza", cada vez mais estão sendo, arbitrariamente, incluídos vocábulos errôneos em nossos dicionários, apenas pela frequência em que começaram a ser utilizados. Começou lentamente com a inclusão do adjetivo "incluso" como sendo sinônimo para "incluído" (particípio do verbo "incluir"), e foi evoluindo (ou devo dizer involuindo) para a inclusão de palavras como "xerocar" (realizar fotocópia) e "presidenta" (como feminino de presidente). Aliás, "tuitar" já virou verbo, de acordo com a nova edição do Aurélio. Digo o dicionário, porque o verdadeiro Aurélio Buarque deve estar se contorcendo em sua tumba, enquanto vê seu árduo e dedicado trabalho ser jogado na sarjeta.

 Todo o país escravizado por outro ou outros países, tem na mão, enquanto souber ou puder conservar a própria língua, a chave da prisão onde jaz.
-- Gabriela Mistral

quarta-feira, novembro 24, 2010

Onde estão os pais?

O outro dia, foi a Mayara, uma estudante de Direito - futura advogada -, que fez um comentário racista e preconceituoso contra o povo nordestino, dizendo que "nordestino não é gente". Antes disso, havia sido os estudantes adolescentes, de colégio particular, que estupraram a colega. Agora é a vez do Felicíssimo (o nome é perfeito), estudante de Medicina - futuro médico -, que quebrou a cabeça (literalmente) de uma menina e agrediu outra (ocasionando uma incisão de sete pontos), em um bar local.

Quem lê isso, vai pensar que são cenas de um filme surrealista ou, no mínimo, de mau gosto. Mas não. É tudo verídico. Esta é a escória que habita o esgoto em que vivemos atualmente. Mas também, pudera. Com tantos "bons exemplos" de presidentes, deputados, senadores, prefeitos, para não dizer padres, bispos, pastores, e pais, é difícil mesmo, esperar que algo diferente se prolifere em meio aos ratos.

Por falar em pais, onde estarão eles? Será que existem mesmo, hoje em dia, ou são apenas figuras imaginárias, lembranças de um tempo distante, quando se educava e instruía as crianças, apostando que pudessem se tornar adultos responsáveis e íntegros? Personagens de um filme de terror, quem sabe? Sim, pois alguns deles não se contentam em, apenas, não fazer nada. Estão por aí, "educando" seus filhos, na base do espancamento.

Daqui algumas décadas (se chegarmos até lá), a figura dos pais vai ser algo comparado à do Saci-Pererê. Serão apenas personagens míticos do folclore, criados para nos dar a falsa impressão de que nossas crianças - o futuro da nossa raça - não estejam se criando por conta própria. A consequência disto? Falta de educação (no sentido real da palavra mesmo), de valores morais, de cultura. É, toda essa lengalenga piegas que ninguém mais gosta de lembrar.

Outro dia, o Prates, jornalista renomado, vociferou contra o que ele chamou de "miseráveis" que adquiriam automóveis e saiam por aí dizimando o trânsito. Foi crucificado. Não mediu bem as palavras e passou por desumano e preconceituoso. Na minha opinião, um erro justificável, dadas as atrocidades revoltantes nas quais estamos imersos 24 horas por dia. Explico: não interpreto o termo "miserável" utilizado, como vinculado à pobreza de bens materiais, à situação socioeconômica (acho que "classe social" está caindo em desuso, e não quero ser processado por preconceito). Mas sim, à pobreza de cultura, de educação e de moral. E aí, concordo plenamente com ele. Para dirigir um carro, não basta saber usar o acelerador e o freio. Tem que ter bom senso, educação, respeito e responsabilidade. Nesse ponto, tanto faz o cara ser pobre ou rico.

A pouca vergonha deste país, é deixar gente sem a menor condição, tirar carteira. Ou pior, dirigir sem, já que a fiscalização é inútil. Auto-escola? Não me faça rir. É só (mais) um jeito de extorquir dinheiro do povo. Eu transito na SC-401 todos os dias. Alguns leitores não têm noção das aberrações que eu presencio diariamente (vide a placa de "É o X° dia sem mortes nesta rodovia" que, quando o X chega a 30, solta-se fogos de artifício). Inclusive essa, que o Prates comentou: os abutres parando no meio da estrada, para ver se conseguem ver de perto e sentir o cheiro do sangue.

Pois eu, se fosse deputado, iria propor o seguinte projeto de lei: todos aqueles que quiserem ter filhos, o farão desde que adquiram uma habilitação de paternidade. Essa habilitação seria concedida, após realizado o curso básico, e mediante aprovação nos exames teóricos e práticos, além dos exames psicológicos e sociológicos. Uma vez concedida esta habilitação, ela deverá ser renovada a cada 5 anos. Infrações graves poderão ocasionar a suspensão ou revogação permanente da habilitação.

Não, Duende, é lógico que a lei não seria aprovada. Mas quem sabe, a proposta pudesse levar alguém a pensar um pouco na responsabilidade que as pessoas carregam, quando decidem ser pais. O problema são os estúpidos (cada vez mais deles) que acham que, para ser pais, basta saber ejacular. A eles, meu comentário: o fato de vocês possuírem espermatozóides e óvulos, os tornam aptos a gerar uma vida. Mas, de forma alguma, a nutrí-la com os valores morais, éticos, emocionais, sociais, e tantos outros fatores indispensáveis para a evolução deste ser, para um adulto íntegro. Para isso, é necessário muito, muito mais.

"Onde poderemos nós, alguma vez, encontrar alguém que tenha recebido, seja de quem for, mais benefícios do que aqueles que os filhos receberam dos pais."
-- Xenofonte

sexta-feira, novembro 19, 2010

Amor e Medo

Hoje, quando vinha dirigindo de volta para casa, em meio ao caos tradicional do trânsito das 18hs, me ocorreu um pensamento, não novo, mas recorrente, e que evolui a cada instância em que me deparo com situações similares. Enquanto presenciava inúmeras demonstrações de falta de respeito, descaso, inexperiência, arrogância e irresponsabilidade, por grande parte dos motoristas, estava presenciando, de fato, um espetáculo da mais pura essência humana.

Me ocorre que -- e como já mencionei por diversas vezes -- o ser humano, em sua essência, é totalmente amoral. Ele possui apenas um instinto de auto-preservação, o que leva a uma necessidade de bem-estar próprio. Em suma, ele age de acordo com o que é mais benéfico para si, em cada determinado momento. Isto parece, de fato, ser um pensamento simplista e até óbvio. Óbvio, porque os próprios conceitos de moral, valores, ética e a própria definição de certo e errado, foram criados pelo ser humano. E, também por ele, têm sido passado, deturpado e alimentado a seus descendentes, através de suas próprias experiências e interpretações imperfeitas. De fato, o ser humano é uma criatura tão falha em sua essência, que me faz pensar (mais uma vez), qual o verdadeiro propósito de sua criação (não que eu aspire desvendar o mistério da Criação, pelo menos nesta vida). Mas creio já saber a resposta: a evolução. E tenho uma forte crença, teimosa, de que um dia chegaremos lá. Se não nessa, em outra vida. De qualquer forma, o ser humano não tem a capacidade e, muitas vezes, nem mesmo o interesse de se policiar dentro de suas próprias diretrizes, e agir coerentemente de acordo com aquilo que, ele próprio, definiu como certo, moral, ético ou justo. Em outras palavras, o ser humano não age de acordo com seus próprios conceitos de correção. Não faz algo porque está certo, nem tampouco deixa de fazê-lo porque está errado.

Mas então, o que policia o homem, o que rege sua vida e o coloca na direção certa de sua suposta evolução, e permite que viva em sociedade e harmonia com os demais seres humanos do planeta? O sentimento mais primitivo de todos, que é congênito e forjado em sua essência, junto com sua amoralidade: o medo.

O homem não tem a capacidade de discernir o certo do errado, não antes de ele próprio definir o que é isso. Mas ele é capaz de sentir. E o medo é um sentimento forte o suficiente para fazê-lo agir. O homem não rouba e não mata um semelhante, não porque é errado, ou imoral. Mas porque tem medo das consequências de infringir uma lei, que ele próprio criou para definir o que pode, ou não, ser feito. O duende berra: "Blasfêmia! Eu não roubo porque isso é errado! Sou honesto!" Calma, duende. Até você verá que é tudo uma questão de interpretação. Roubar um pão para sasciar a fome de um moribundo é justificável. Assim como matar em legítima defesa, para evitar a própria morte. Tudo é uma questão de ponto de vista, já que tudo foi criado e definido pelas próprias mentes que julgam e agem.

Assim, enquanto minha mente vagueia por esses pensamentos, eu, momentaneamente distraído, percebo que, ao ficar do lado de cá da faixa de pedestres para não trancar o cruzamento quando a luz tornar-se verde, permito que mais um motorista mal-educado entre na minha frente (pela terceira vez). Consequência: a essa altura do campeonato, os ânimos já estão tão alterados que, todos, de ambos os lados do cruzamento, decidem disputar, na força-bruta, as escassas vagas da via congestionada. Ué, mas não é errado, imoral e injusto? Agora não, já que o medo desapareceu: não existe ninguém fiscalizando e fazendo cumprir a lei (e punindo quem a desobedece). E aí, estamos de volta à nossa mais pura essência: a amoralidade e a necessidade do bem-estar próprio.

Então, estaremos perdidos? É o fim de tudo, mesmo antes de haver começado? Não. Como tudo nesta vida é contrabalançado por uma força maior, existe um outro sentimento humano, tão forte quanto o medo, e igualmente capaz de fazer o homem agir: o amor.

Por amor, o homem trabalha em excesso para sustentar uma família, deixa de alimentar a si próprio, de dormir. Põe sua própria vida em risco e, às vezes, a sacrifica. É capaz de colocar o bem-estar de outrem, acima de seu próprio. Toma decisões difíceis, torna-se altruísta, muda hábitos e se disciplina. O amor, se não oposto (como o velho clichê: amor e ódio), é complementar, equivalente, e tão motivador quanto o medo.

Mas o ser humano se utiliza do medo para policiar sua existência. Cria leis, deflagra punições. Cria castas e intimida seus subordinados. Para disciplinar uma criança, dá-se uma palmada, coloca-se de castigo. O medo irá condicioná-la. Nas empresas, incentiva-se mais por sanções do que por recompensas. As autoridades impõe controle, não por respeito, mas por medo das consequências adversas.

Há uma diferença sutil, entre as duas abordagens: o medo se impõe; o amor, é preciso conquistar. Mas algo me diz que, uma espécie que necessita fomentar um sentimento vil como o medo, e o usa para reger sua própria existência e evolução, além de justificar suas fraquezas e inaptidões, está fadada a definhar em sua própria amoralidade inóspita.

Seremos capazes de reverter o alicerce sob o qual construímos toda uma sociedade? O tempo dirá. Enquanto isso, sempre teremos opções: amor ou medo?

A honra que recebemos daqueles a quem tememos em nada nos honra.
-- Michel de Montaigne

sexta-feira, julho 17, 2009

Chega José!!

   Chega!! Fiquei calado por tempo demais sobre essa (mais uma) "crise" absurda. Escrevo "crise" (entre aspas) porque isso não é uma crise. É uma safadeza, roubalheira, mal-caratismo e DEBOCHE à população. Mas nós, brasileiros, já estamos tão acostumados com isso, não?

   Sarney (e esta é a última vez que o chamarei assim, pois seu nome é José), não o chamarei de Vossa Senhoria, ou até mesmo de senhor. Porque para ser tratado com respeito é preciso tratar com respeito. A instituição que você "tanto preza", seus colegas de trabalho, o povo e a mim, como brasileiro ofendido, humilhado e CANSADO. Quem você pensa que é? Alguma celebridade importante, um benfeitor humilde, um trabalhador honesto? Você diz "ter feito tanto pelo país". Pois bem, por favor, escreva aqui para mim uma lista com as grandes contribuições (positivas) que você fez pelo país.

   Subiu ao poder da presidência por uma ironia do destino, que levou à morte o candidato tão aclamado pelo povo, e colocou você no cargo, apenas para levar o que, me arrisco dizer, foi um dos piores governos deste país. Era apenas uma criança na época, mas lembro-me muito bem da falta generalizada de produtos, de levantar de manhã cedíssimo para enfrentar fila no supermercado para conseguir comprar leite. LEITE, José! Lembro-me das dezenas de pacotes econômicos. Chega. Não me dignarei a falar mais sobre seu governo inútil. Deixarei a seu cargo enumerar as "tantas" contribuições que você fez ao longo de sua "biografia", como gosta tanto de colocar.

   Não li até o fim seu último discurso, extremamente longo e demagógico, feito em um plenário vazio. Não tenho mais paciência e estômago para ler essas coisas. Além do que, seu discurso vazio é exatamente igual ao de todos os salafrários que ocupam o poder, e tentam justificar seus atos e ludibriar o povo utilizando palavras eloquentes e rebuscadas.

   Deixe de uma vez o Senado! Tenha ao menos esta dignidade. Mas acredito seriamente que isto é pedir demais. Pois quem nunca a teve, não será agora que a adquirirá. Você disse que está sendo injustiçado. Diga-me, que injustiça é essa? Ser punido pelos crimes que cometeu? Sim, pois de acordo com o atual governo, os crimes sempre ocorreram, então porque não continuar cometendo-os, certo? E disse que "as grandes injustiças só podem ser combatidas com três coisas: silêncio, paciência e tempo". Sim, José. Percebe-se que ao longo de sua longa trajetória política, você realmente aprendeu isso. Para sair dos crimes impunemente no Brasil, é necessário ter-se essas três coisas mesmo. Silêncio, para que o povo não pense mais nas barbaridades cometidas. Paciência para discursar demagogicamente enquanto as acusações são feitas, até que os acusadores calem-se de exaustão. E tempo, para que tudo seja esquecido e "varrido para debaixo do tapete", como sempre acontece neste país. Parabéns, José. Realmente sua vida política ensinou-o bem.

   Infelizmente, agora só me resta fazer a mesma pergunta (que já fiz incontáveis vezes) aos meus poucos colegas de imprensa que não se corromperam ou aceitaram calar-se conformadamente, aos poucos políticos corretos que ainda existem, e ao povo brasileiro: até quando?!

Deviam parar com a demagogia sobre as massas. As massas são rudes, sem preparação, ignorantes, perniciosas em suas reivindicações e influências. Não precisam de lisonjas mas de instrução.

-- Ralph Emerson

quinta-feira, julho 09, 2009

A Filosofia da Liberdade

   Há algum tempo atrás recebi de um amigo, por e-mail, um vídeo tratando da filosofia da liberdade. Segue o link (em inglês).

   É um vídeo relativamente longo (8:15 min.), mas é bem interessante e vale a pena ser visto. Trata de conceitos simples da sociedade, como propriedade, direito, autoridade e liberdade. Após assistir ao vídeo, vocês verão, como é simples, não? Infelizmente tem muita gente (MUITA MESMO) no mundo que nunca ouviu falar em conceitos tão simples... Talvez se esses conceitos básicos fossem ensinados na escola primária e secundária, junto com o bê-á-bá, daqui uns duzentos anos, viveríamos em uma sociedade tranquila.

   Mas pensando bem, ninguém vai querer investir em algo que não será recuperado durante sua própria existência egoísta. Isso já faz parte da nossa sociedade. Além disso (agora filosofando um pouco), isso só funcionaria se descartássemos a própria natureza humana que, na minha opinião, jamais permitiria isso. Os humanos são, por natureza, extremamente ambiciosos. Seja por poder, riqueza material, reconhecimento, respeito, admiração, ou o que for, o ser humano SEMPRE vai querer mais. O que é bom hoje, não será bom amanhã. Enquanto isso pode ser considerado uma qualidade, que garantiu a perpetuação e evolução da nossa espécie até hoje, não é compatível com o "conceito de liberdade" citado, já que, naturalmente, para você ser mais e/ou melhor do que alguém, este alguém terá que, obrigatoriamente, ser menos e/ou pior que você. E a partir daí, tudo se degringola até chegar no ponto em que está hoje.
   Além disso, o ser humano tem incutido em sua essência, a velha máxima de que "os fins justificam os meios". Novamente, uma qualidade questionável do ser humano. Não fosse uma qualidade, jamais comeríamos carne (os vegetarianos que me perdoem), pois para se comer um bife, é necessário matar uma vaca. Já posso ouvir o duende: "Mas que exemplo simplório!" Não, meu caro. Essa máxima se perpetua para cada aspecto de nossas vidas. Se pararem para pensar, no fundo, no fundo, os fins sempre justificam os meios. Seja na política, na saúde, na educação, no trabalho, nas relações humanas em geral. Mas quando essa máxima é aplicada ao conceito de sempre procurar ser mais e melhor do que os outros, novamente a coisa degringola.
   Ou seja, o vídeo (e a idéia) é bacana, verdadeiro e interessante. Mas, infelizmente, trata-se apenas de filosofia que no fundo, no fundo, não levará nada a lugar nenhum. Talvez com alguma outra espécie, em alguma outra era.

Um homem não pode ser mais homem do que os outros, porque a liberdade é igualmente infinita em todos

-- Jean-Paul Sartre