sexta-feira, julho 17, 2009

Chega José!!

   Chega!! Fiquei calado por tempo demais sobre essa (mais uma) "crise" absurda. Escrevo "crise" (entre aspas) porque isso não é uma crise. É uma safadeza, roubalheira, mal-caratismo e DEBOCHE à população. Mas nós, brasileiros, já estamos tão acostumados com isso, não?

   Sarney (e esta é a última vez que o chamarei assim, pois seu nome é José), não o chamarei de Vossa Senhoria, ou até mesmo de senhor. Porque para ser tratado com respeito é preciso tratar com respeito. A instituição que você "tanto preza", seus colegas de trabalho, o povo e a mim, como brasileiro ofendido, humilhado e CANSADO. Quem você pensa que é? Alguma celebridade importante, um benfeitor humilde, um trabalhador honesto? Você diz "ter feito tanto pelo país". Pois bem, por favor, escreva aqui para mim uma lista com as grandes contribuições (positivas) que você fez pelo país.

   Subiu ao poder da presidência por uma ironia do destino, que levou à morte o candidato tão aclamado pelo povo, e colocou você no cargo, apenas para levar o que, me arrisco dizer, foi um dos piores governos deste país. Era apenas uma criança na época, mas lembro-me muito bem da falta generalizada de produtos, de levantar de manhã cedíssimo para enfrentar fila no supermercado para conseguir comprar leite. LEITE, José! Lembro-me das dezenas de pacotes econômicos. Chega. Não me dignarei a falar mais sobre seu governo inútil. Deixarei a seu cargo enumerar as "tantas" contribuições que você fez ao longo de sua "biografia", como gosta tanto de colocar.

   Não li até o fim seu último discurso, extremamente longo e demagógico, feito em um plenário vazio. Não tenho mais paciência e estômago para ler essas coisas. Além do que, seu discurso vazio é exatamente igual ao de todos os salafrários que ocupam o poder, e tentam justificar seus atos e ludibriar o povo utilizando palavras eloquentes e rebuscadas.

   Deixe de uma vez o Senado! Tenha ao menos esta dignidade. Mas acredito seriamente que isto é pedir demais. Pois quem nunca a teve, não será agora que a adquirirá. Você disse que está sendo injustiçado. Diga-me, que injustiça é essa? Ser punido pelos crimes que cometeu? Sim, pois de acordo com o atual governo, os crimes sempre ocorreram, então porque não continuar cometendo-os, certo? E disse que "as grandes injustiças só podem ser combatidas com três coisas: silêncio, paciência e tempo". Sim, José. Percebe-se que ao longo de sua longa trajetória política, você realmente aprendeu isso. Para sair dos crimes impunemente no Brasil, é necessário ter-se essas três coisas mesmo. Silêncio, para que o povo não pense mais nas barbaridades cometidas. Paciência para discursar demagogicamente enquanto as acusações são feitas, até que os acusadores calem-se de exaustão. E tempo, para que tudo seja esquecido e "varrido para debaixo do tapete", como sempre acontece neste país. Parabéns, José. Realmente sua vida política ensinou-o bem.

   Infelizmente, agora só me resta fazer a mesma pergunta (que já fiz incontáveis vezes) aos meus poucos colegas de imprensa que não se corromperam ou aceitaram calar-se conformadamente, aos poucos políticos corretos que ainda existem, e ao povo brasileiro: até quando?!

Deviam parar com a demagogia sobre as massas. As massas são rudes, sem preparação, ignorantes, perniciosas em suas reivindicações e influências. Não precisam de lisonjas mas de instrução.

-- Ralph Emerson

quinta-feira, julho 09, 2009

A Filosofia da Liberdade

   Há algum tempo atrás recebi de um amigo, por e-mail, um vídeo tratando da filosofia da liberdade. Segue o link (em inglês).

   É um vídeo relativamente longo (8:15 min.), mas é bem interessante e vale a pena ser visto. Trata de conceitos simples da sociedade, como propriedade, direito, autoridade e liberdade. Após assistir ao vídeo, vocês verão, como é simples, não? Infelizmente tem muita gente (MUITA MESMO) no mundo que nunca ouviu falar em conceitos tão simples... Talvez se esses conceitos básicos fossem ensinados na escola primária e secundária, junto com o bê-á-bá, daqui uns duzentos anos, viveríamos em uma sociedade tranquila.

   Mas pensando bem, ninguém vai querer investir em algo que não será recuperado durante sua própria existência egoísta. Isso já faz parte da nossa sociedade. Além disso (agora filosofando um pouco), isso só funcionaria se descartássemos a própria natureza humana que, na minha opinião, jamais permitiria isso. Os humanos são, por natureza, extremamente ambiciosos. Seja por poder, riqueza material, reconhecimento, respeito, admiração, ou o que for, o ser humano SEMPRE vai querer mais. O que é bom hoje, não será bom amanhã. Enquanto isso pode ser considerado uma qualidade, que garantiu a perpetuação e evolução da nossa espécie até hoje, não é compatível com o "conceito de liberdade" citado, já que, naturalmente, para você ser mais e/ou melhor do que alguém, este alguém terá que, obrigatoriamente, ser menos e/ou pior que você. E a partir daí, tudo se degringola até chegar no ponto em que está hoje.
   Além disso, o ser humano tem incutido em sua essência, a velha máxima de que "os fins justificam os meios". Novamente, uma qualidade questionável do ser humano. Não fosse uma qualidade, jamais comeríamos carne (os vegetarianos que me perdoem), pois para se comer um bife, é necessário matar uma vaca. Já posso ouvir o duende: "Mas que exemplo simplório!" Não, meu caro. Essa máxima se perpetua para cada aspecto de nossas vidas. Se pararem para pensar, no fundo, no fundo, os fins sempre justificam os meios. Seja na política, na saúde, na educação, no trabalho, nas relações humanas em geral. Mas quando essa máxima é aplicada ao conceito de sempre procurar ser mais e melhor do que os outros, novamente a coisa degringola.
   Ou seja, o vídeo (e a idéia) é bacana, verdadeiro e interessante. Mas, infelizmente, trata-se apenas de filosofia que no fundo, no fundo, não levará nada a lugar nenhum. Talvez com alguma outra espécie, em alguma outra era.

Um homem não pode ser mais homem do que os outros, porque a liberdade é igualmente infinita em todos

-- Jean-Paul Sartre



quarta-feira, junho 24, 2009

Perda, Esperança e Vitória

   Caros leitores,

   Contarei agora uma história pessoal e verídica que já ocorreu (e vem ocorrendo) há algum tempo, mas que até hoje não tive a inspiração para compartilhar. Acredito ter chegado, finalmente, a hora.

   Perda

   Há cerca de um ano e meio tive uma enorme reviravolta em minha vida. Fui inesperadamente acometido por uma doença extremamente rara e séria, chamada Síndrome de Susac. Uma doença auto-imune recente (descoberta em 1978) com menos de 200 casos no mundo inteiro. A doença afeta em sua grande maioria as mulheres, sendo eu, oficialmente, o nono (9º) homem do mundo a contraí-la.
   Esta doença é principalmente disparada por stress e causa uma vasculite sistêmica grave. Ataca primariamente a retina, cóclea e sistema nervoso central (SNC). Cada um dos poucos casos registrados até hoje tem um perfil bastante diferente e peculiar para cada indivíduo, tornando a doença, além de tudo, de difícil diagnóstico.
   No meu caso específico, tive alguma degradação na visão (alteração na visão periférica, sensação de ofuscamento, etc.) Tive sérios distúrbios no SNC, incluindo perda de coordenação motora, equilíbrio, memória, raciocínio, concentração e habilidade de leitura. E finalmente, minhas cócleas foram afetadas de tal maneira que houve morte de praticamente todas as células receptoras, resultando na perda total da audição (perda neurosensorial bilateral definitiva).
   Como pensador, perdi a habilidade de raciocinar propriamente. Minha condição me impossibilitava de sequer realizar operações aritméticas insignificantes, ou exercícios básicos de linguagem, como soletrar palavras comuns.
   Como escritor, mal conseguia ler coerentemente um texto, quanto mais desenvolver e escrever idéias.
   Como músico, não conseguia ouvir sequer minha própria voz, barulhos do ambiente, sons da natureza, quanto mais as notas musicais, timbres, acordes e melodias que tanto me deram prazer no passado.
   Adentrei um mundo assustadoramente silencioso, introspectivo e incerto.

   Esperança

   Após a estabilização de minha condição, durante dois meses de internação em quatro hospitais diferentes, doses maciças de medicamentos, incontáveis exames e intermináveis doses de preocupação, não só minha mas também (e talvez, principalmente) de meus familiares e amigos, deu-se um incansável processo de recuperação. Através de exaustivo e contínuo treino (físico e mental), muita determinação, paciência, e uma boa dose de força de vontade, que vêm durando todo este último ano e meio, quase todos estes obstáculos foram transpostos.
   Houve total recuperação da retina e hoje minha visão encontra-se normal. Meu poder de raciocínio foi gradativamente retornando até a total recuperação. O mesmo com minha coordenação motora, habilidade de concentração e leitura, e praticamente todos os lapsos de memória. Meu equilíbrio, apesar de ainda não estar cem por cento, recuperou-se de tal forma que tornou-se imperceptível às demais pessoas qualquer degradação aparente.
   Infelizmente, a morte das células receptoras no interior das cócleas não é reversível naturalmente. De forma que ainda me encontro no introspectivo mundo do silêncio. Contudo, fui capaz de encontrar paz nesta nova condição. Tornei-me extremamente observador, meus sentidos tátil, olfativo e visual apuraram-se imensamente. Encontrei prazer em outras áreas e atividades. Tenho aprendido muito sobre mim mesmo e sobre as pessoas, através de um ponto de vista que jamais tivera acesso. Aprendi o verdadeiro valor da família e dos verdadeiros amigos.
   E aprendi que a vida é muito mais do que, normalmente, nos damos conta.

   Vitória

   Minha vitória veio de várias formas. Minha paz interior tem sido a maior e mais significante delas. A recuperação da minha independência e auto-confiança, e a não-perda de minha personalidade (uma das coisas que mais me preocupava) também contaram bastante. Contudo, a maior vitória veio através de uma notícia totalmente inesperada e repentina.
   Já faz um ano que venho levando o processo para conseguir a cirurgia do implante coclear através do SUS (Serviço Único de Saúde). Venho também, paralelamente, tentando o mesmo processo através do convênio de saúde que, apesar de serem obrigados por lei a cobrir o procedimento, muitas vezes demoram para se manifestar e, em alguns casos, é necessário recorrer ao judiciário. Minha maior aposta é que a cirurgia fosse aprovada pelo SUS, provavelmente no final deste ano.
   Vale uma explicação: Implante Coclear (IC) é uma tecnologia relativamente recente, que vem se desenvolvendo de maneira impressionante nos últimos anos, e que para alguns tipos de deficiência auditiva (o meu caso) é a única solução possível para se obter alguma melhora. Tipicamente, obtem-se bons resultados, variando muito de pessoa para pessoa, já que existem inúmeras variáveis envolvidas no processo.
   Agora, no início deste mês de junho, tive a inesperada notícia que meu plano de saúde havia aprovado a cirurgia. Fui a Porto Alegre realizar os exames e avaliações pré-operatórias, em um processo que aconteceu muito mais rapidamente do que eu esperava. Feito isso, ficou determinado que sou um ótimo candidato ao IC e minha cirurgia já foi marcada para, pasmem, dia 27 próximo!
   Esta então, será minha mais gratificante vitória. A retomada do poder de comunicação e interação com as pessoas, de forma muito mais satisfatória e, principalmente, a perspectiva de poder finalmente retornar ao mundo da música. De tudo o que me foi afetado, desde o início, essa talvez tenha sido minha mais frustrante perda: meu exílio involuntário do mundo musical.
   Aí o duende dirá: mas por que então falar de uma vitória que ainda nem sequer aconteceu?
Respondo, meu caro. Não preciso saber do resultado, pois já tenho a certeza absoluta de que a recuperação de minha audição, embora que certamente não seja a volta exata do que um dia foi, será plenamente satisfatória para minhas expectativas e devolverá, com certeza, uma de minhas maiores paixões: a música.
   Depois de tudo o que aconteceu, todas as provações e aprendizado, isso já é, sim, a Vitória.