domingo, dezembro 05, 2010

A Morte (não tão) Lenta do Português

Antes que alguém se confunda com o título deste post, não, não se trata de uma piada lusitana de mau gosto. Estou falando da nossa Língua Portuguesa.

Pois que, uma bela noite, estava lendo um artigo de meu interesse, na versão on-line de uma revista que assino (pouparei o nome da revista, já que meu foco aqui não é atacá-la; já fiz isso em um comentário direto aos editores da mesma) e já enfadado de, pela enésima vez, encontrar um turbilhão de intermináveis aberrações "estrangeiristas", resolvi escrever o seguinte comentário aos editores da revista:

Caros editores,

Ao contrário de muitos usuários que costumam comentar nas notícias aqui da *** on-line, eu raramente utilizo este espaço de comentários para criticar a forma e a escrita dos textos. Prefiro comentar a notícia em si, seu conteúdo. Mas dessa vez, vou fazer uma exceção; como assinante da revista há quase dez anos, reservo-me o direito.

Estou cansado dos estrangeirismos utilizados deliberada e abundantemente pela ***, tanto no formato on-line quanto no papel. E existe uma palavra, especificamente, que me dói a vista, sempre que a encontro (cada vez mais frequentemente): "massivo", utilizado como tradução para a palavra inglesa "massive", NÃO É uma palavra da Língua Portuguesa. Ela não existe no nosso dicionário e é um erro utilizá-la. A tradução de "massive" é o adjetivo "maciço" que, este sim, existe na Língua Portuguesa e reflete perfeitamente o significado adequado.

Numa época em que, cada vez mais, nossa língua é, impiedosa e constantemente, deturpada, acredito que a ***, como meio de comunicação jornalístico e formadora de opinião, tem o dever de prezar pela manutenção do artefato mais básico da comunicação: nossa Língua Pátria.

Aviso ao Duende de plantão: sim, eu propositalmente inseri alguns estrangeirismos neste post. O faço com plena consciência de que, em um mundo cada vez mais globalizado, a evolução de uma língua é, não só inevitável, mas essencial. Utilizo palavras que foram introduzidas em nossa língua, oriundas de outras (predominantemente, o Inglês), na falta de outra que expresse melhor significado no contexto em questão, com a exata grafia da língua original e que, há muito, já foram incorporadas oficialmente ao nosso dicionário. Entre elas, "post" e "on-line". Considero isto aceitável embora, em alguns casos, ainda relute em utilizar determinados estrangeirismos. Mas considerando a evolução da língua, em um mundo globalizado, moderno e tecnológico, é quase mais aberrante a não utilização de determinados substitutos, do que a própria. Vide o caso da palavra 'sítio' ao invés de 'site', que alguns hipócritas insistem em utilizar, alegando um falso patriotismo pela língua Portuguesa. Por que hipócritas? Uma vez me deparei com um texto que dizia "clique no linque do sítio", cujo autor "justificou" o grotesco literário alegando preferir utilizar vocábulos de nossa própria língua. Informação: "linque" jamais existiu (graças a Deus, e espero que assim continue) na língua Portuguesa.

Mas voltando ao assunto em questão. Apesar de tolerar e, em determinadas ocasiões, sucumbir (e considerar aceitável) à utilização de vocábulos estrangeiros que já foram incorporados à nossa língua, jamais concordarei com a transformação deturpada de palavras estrangeiras para utilização literária. Gírias e regionalismos são aceitos na linguagem coloquial e falada, mas jamais façam uso dos mesmos na redação de textos. Muito menos quando forem publicá-los em meios de comunicação profissionais. Além de ser errado, antiético e antiprofissional, está colaborando com a proliferação da ignorância em nosso país (que já não é baixa).

Já me deparei com aberrações como "massivo", "printar", "tuitar" e, pasmem, "googlear". A minha pergunta é: não temos vocábulos suficientes em nossa língua? Ela já não é rica o suficiente, sendo considerada uma das mais ricas do mundo? A ignorância se tornou "cult" e agora é "cool" escrever errado? Na minha opinião, utilizar esse tipo de aberração e, ainda por cima, defender sua utilização, alegando uma suposta evolução na língua, é como querer incorporar à língua escrita o "jargão" utilizado por traficantes e favelados, como "mano", "bródi", "preiba" e "dorgas".

Mas o pior de tudo é saber que algumas dessas "preciosidades" já estão sendo incluídas em nosso vocabulário, através de nossos dicionários mais famosos e oficializando, assim, a correção dos termos. Sob o argumento de que "a língua correta é aquela que o povo utiliza", cada vez mais estão sendo, arbitrariamente, incluídos vocábulos errôneos em nossos dicionários, apenas pela frequência em que começaram a ser utilizados. Começou lentamente com a inclusão do adjetivo "incluso" como sendo sinônimo para "incluído" (particípio do verbo "incluir"), e foi evoluindo (ou devo dizer involuindo) para a inclusão de palavras como "xerocar" (realizar fotocópia) e "presidenta" (como feminino de presidente). Aliás, "tuitar" já virou verbo, de acordo com a nova edição do Aurélio. Digo o dicionário, porque o verdadeiro Aurélio Buarque deve estar se contorcendo em sua tumba, enquanto vê seu árduo e dedicado trabalho ser jogado na sarjeta.

 Todo o país escravizado por outro ou outros países, tem na mão, enquanto souber ou puder conservar a própria língua, a chave da prisão onde jaz.
-- Gabriela Mistral

2 comentários:

Erika Fraccaroli e Fabio Cesar de Mattos disse...

Bom, após oito anos de ensino fundamental (quer dizer agora são nove) e três anos de ensino médio os pais colocam seus pais em "cursinhos" prepatórios para o vestibular.
Em um cenário desses podemos esperar muito?
Vou providenciar o "tubinho" preto.

Anônimo disse...

E...se vocês vissem como andam os textos escolares, a maneira com que nossas crianças estão usando a "língua portuguesa" para se expressarem, vocês não vestiriam mais preto, pois já estariam rezando missa de anos de falecimento. Particularmente, em minha disciplina, que nem de português é, desisti de cobrar textos e resenhas feitas pelos alunos. Chego a ter casos impossíveis de leitura, imaginem então de compreender o raciocínio utilizado pelo aluno, totalmente incoerentes. Existem palavras, como consciência, que nunca achei escrita corretamente em um texto de aluno (10 anos de profissão). Faz, mais ou menos, esse tempo que a língua portuguesa morreu pra mim, apesar de tentar ressuscitá-la sempre que possível.