sexta-feira, novembro 14, 2008

História da Eloísa

   Eloísa era uma garota de 15 anos. Bonita, simpática e cheia de sonhos, como uma típica adolescente normal. Aos 12 anos conheceu um rapaz de 19, Kindermann, aparentemente normal, com quem iniciou um relacionamento. O rapaz era conhecido pelo apelido "Sujo". A família, por incrível que pareça, aprovou o namoro de uma menina de 12 com um rapaz de 19 como se fosse uma coisa normal.

   Três anos mais tarde, o relacionamento terminou mal, após vários términos e reconciliações. Sujo mostrou-se um rapaz altamente problemático ao longo de todo o tempo, como inúmeros amigos e colegas do casal, bem como outros moradores do bairro, podiam afirmar. Após mais uma separação, que ocorreu por conta de uma agressão de Sujo contra Eloísa, a mãe quis dar queixa na polícia. No entanto, o pai de Eloísa, um criminoso foragido da polícia há anos, não quis, por motivos óbvios.

   Sujo então sequestrou Eloísa, por não aceitar a separação. Após 100 horas de sequestro, e tentativas mal-sucedidas de negociação, Sujo acabou por expor-se em frente a uma janela do apartamento. Um dos franco-atiradores da polícia, muito bem preparada, não hesitou e eliminou o bandido com um tiro certeiro na cabeça.

   Eloísa foi salva e saiu ilesa de seu cativeiro. Após o incidente, o comandante da operação foi rodeado de moradores, jornalistas e ativistas. As pessoas indagavam:

   -- Comandante, por que a polícia foi tão precipitada? Não daria para tirar o Sujo vivo?

   -- Vejam bem, a ordem que dei à minha equipe foi: "Tirem a Eloísa de lá ilesa". E eles conseguiram. Vocês não estão felizes? Ela poderia estar morta, mas está sã e salva e seus pais estão muito contentes de ter sua filha de volta.

   -- Mas e os pais do Sujo?

   -- Os pais do sequestrador e potencial assassino? Bom, acho que vão ter que se conformar com o fato do filho deles ter se tornado um sequestrador e potencial assassino. Infelizmente a vida é dura mesmo. Principalmente para os bandidos, que optaram por essa vida. As pessoas de bem, que não infringem as leis, normalmente tem uma vida melhor. A Eloísa era de bem e não infringiu nenhuma lei. E infelizmente, ainda teve que passar por tudo isso. Mas nós a salvamos. É o nosso dever. Proteger os cidadãos de bem.

   -- Mas Comandante, o senhor não está sendo desumano?

   -- Veja bem, amigo. O senhor tem filhos?

   -- Tenho sim. Um garoto de 6 anos. O Elói.

   -- Hmm, Elói? Me parece familiar. Então, digamos que um dia, e Deus queira que isso nunca venha a acontecer, o Elói seja sequestrado. Você chamaria a polícia, não?

   -- Claro, senhor.

   -- Então, qual seria o seu pedido à polícia?

   -- Que prendessem...

   -- Amigo, apenas um pedido à polícia, por favor. Pode ser "Não deixem o bandido morrer", ou "tirem o Elói de lá vivo".

   -- Tirem meu filho de lá vivo, por favor.

   -- Então, e nós faríamos isso. Se você pedisse "não deixem o bandido morrer", nós garantiríamos isso para o senhor. Já o Elói...

   A multidão começou a se dispersar e do outro lado da rua podia-se ver os pais de Eloísa felizes, abraçando a Eloísa e agradecidos pela polícia ter feito seu trabalho e conseguido proteger sua filha inocente das garras de um criminoso.

3 comentários:

Profª. Juliana - Química disse...

Independente de qual fosse a reação da polícia, neste caso, sairia sendo taxada de desumana. Pois os que dizem defender os "direitos humanos" atuais estão mais preocupados com os criminosos do que com a população honesta, que sofre com tantos problemas cotidianos (falta de condições "humanas" mínimas de sobrevivência).

Grumpy disse...

Pois é, Juliana, mas aí que está. Eliminar um criminoso que está tentando tirar a vida de um inocente não é desumano. É a lei. É moral. É justo. E é o que todos queremos (consciente ou inconscientemente). Existe o livre-arbítrio para que todas as pessoas escolham o caminho que vão seguir. E enfrentem as consequências.
Um abraço.

Nelson Azambuja disse...

Meu dileto Filho!

Olha só, quantas questões tão delicadas foram abordadas na tua crônica, por sinal, muito bem escrita. O desleixo dos pais da Eloísa ao não se importarem com as idades relativas do "Sujo" e da sua filha, o significativo apelido do namorado, a atuação da polícia, a reação dos jornalistas, moradores e ativistas ... Para não tornar muito longo o comentário, no que se refere ao desfecho, positivo e o mais desejado, sem dúvida alguma, só teria faltado uma pequena frase: " ... e a Eloísa acordou; havia sido apenas um sonho mau (ou bom?)!"